Embora muitos não saibam, a apresentadora Glória
Maria foi fã de Michael Jackson. Mas não só por sua música, dança, ou sucesso. Ela
foi fã da grande pessoa que ele sempre foi.
Após a morte, ela desabafou sobre
seu encontro com Michael, quando ele veio gravar o clipe 'They Don't Care About
Us' aqui no Brasil.
É um emocionante depoimento, vale muita a pena ler:
"Comigo, as coisas não são
normais. Eu não entrevistei o Michael Jackson, foi ele que me entrevistou. Eu o acompanhei quando gravou na
Bahia e fiquei negociando para ver se ele falava comigo. Estávamos no Pelourinho
e o Michael viu o carinho do povo comigo, então, disse que conversaríamos no
Rio. Quando chegamos, subi a favela e a gente ficou conversando uns 20 minutos.
Ele me perguntou como tinha sido o meu início. Contei que vim de uma família
pobre, mas que tinha conseguido estudar. Ele queria saber se não havia
discriminação e racismo no Brasil. Respondi que sim e ele ficou muito
interessado em saber mais. No pouco tempo que fiquei com ele, tive um vislumbre
do ser humano bacana que era.
Vi o seu braço e pedi para
passar a mão. Ele tinha uma pele muito fina e dava para ver que o corpo era
todo tomado pela doença, o vitiligo. Como tinha pouquíssimas partes mais
escuras, realmente seria mais fácil clarear o pouco que restava de escuro. Aí,
notei um buraco no nariz dele e vi que ele ficava sempre com uma gaze tampando.
Perguntei o que era aquilo e ele disse que foi consequência da segunda cirurgia
que fez, porque tinha um desvio de septo e que, por causa disso, ficou com uma
infecção crônica no nariz. Naqueles poucos minutos, alguns dos tabus que todo
mundo tinha, para mim, acabaram. Fiquei triste comigo mesma por ter entrado
nessa história que todos comentavam sobre o seu embranquecimento, por ser uma
coisa alheia à vontade dele.
Quando Michael terminou a
gravação, fiz a passagem e ele ficou quietinho, humilde e com cara de bobo,
esperando eu falar, mas sem entender nada do que eu dizia. E fez a declaração,
dizendo 'Eu amo o Brasil'. Foram várias surpresas em um encontro curto. Vi que
era uma pessoa frágil, simples, sem frescura. No final, ele me puxou, me
abraçou e me beijou. Aquele mito de que ele dormia numa bolha caiu. Eu estava
imunda, cheirando mal, e ele me abraçou sem nojo, sem restrição.
O que me impressionou muito
foi o olhar dele, de tristeza, o tempo todo. Só vi o olho dele brilhar,
parecendo criança, quando estava com o Olodum. Michael pulava, corria de um
lado para o outro, no Pelourinho. O Spike Lee, que era o diretor do clipe, nem
o dirigiu, só captou a espontaneidade dele.
Fui pega de surpresa com a
notícia da morte do Michael. Tive uma sensação de tristeza profunda. Ele foi um
ser humano que não conseguiu ser feliz, não conseguiu ter serenidade na vida,
apesar de ser um ídolo mundial. Todo mundo sabe que a vida dele, desde que
nasceu, foi puro sofrimento. Esqueceram a pessoa que estava ali e, pelo menos
para mim, ele demonstrou ser muito generoso.
Para mim, ele não foi um ídolo,
pois só gostava da música dele na época dos Jackson 5, mas, como ser humano,
sempre me intrigou. Eu tenho identificação de alma com ele. Somos duas pessoas
que, cada uma à sua maneira, conseguiram vencer."
Créditos: Kenny Lopes/ Grupo MJJSOLDIERS
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