quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Em 6 de Março de 2001 Michael Jackson discursa na Universidade Oxford, na Inglaterra


"Vocês provavelmente não estão surpresos em ouvir que eu não tive uma infância idílica. A tensão que existe na minha relação com o meu pai é bem documentada. Meu pai é um homem duro, e pressionou bastante a mim e a meus irmãos, desde a tenra idade, para sermos os melhores artistas que pudéssemos ser. 


Ele tinha muita dificuldade em mostrar afeição. Ele nunca disse que me amava de verdade. E também nunca me elogiava. Se eu fizesse um grande show, ele dizia que era um bom show. E se eu fizesse um show bom, ele me dizia que tinha sido um show muito ruim. Ele parecia tentar acima de tudo fazer de nós um sucesso comercial. E nisso era mais do que adepto.


Meu pai era um empresário genial e os meus irmãos e eu devemos o nosso sucesso profissional numa medida menor à forma dura com que ele nos pressionou. Ele me treinou como um showman e, sob a orientação dele, eu não poderia cometer erro algum.



Mas o que eu realmente queria era um pai. Eu queria um pai que me mostrasse amor. E o meu pai nunca fez isso. Ele nunca disse, “Eu amo-te” olhando-me nos olhos, ele nunca brincou comigo, nunca me carregou nas costas, nunca jogou um travesseiro em mim.


Mas eu me lembro uma vez quando eu tinha mais ou menos quatro anos de idade, que houve um pequeno carnaval e ele pegou em mim e me pôs em cima de um pônei. Foi um gesto pequeno, provavelmente algo que ele tenha esquecido cinco minutos depois. Mas por causa desse momento, eu tenho um lugar especial no meu coração para ele. Por que é assim que as crianças são.


As pequenas coisas significam muito para elas, e para mim, esse momento especial significou tudo.
Eu só tive essa experiência única, mas fez-me realmente sentir muito diferentemente com relação a ele e ao mundo. 


Mas agora eu também sou pai, e um dia eu estava pensando nos meus filhos Prince e Paris, e em como eu queria que eles pensassem em mim quando crescessem.


Para ter certeza, eu gostaria que eles se lembrassem do quanto eu os quis comigo em qualquer lugar que eu fosse, no quanto eu queria, tentava colocá-los em primeiro lugar, incluindo á frente dos meus álbuns e dos meus concertos.


Mas também há desafios na vida deles. Pois os meus filhos são perseguidos por paparazzi, eles não podem sempre ir a um parque ou cinema comigo. Então, e se quando eles crescerem, se sentirem ressentidos comigo e pelas escolhas que fiz e que afectaram a juventude deles?  "Por que não tivemos uma infância comum como todas as outras crianças?” Eles podem perguntar.


No momento, eu rezo para que os meus filhos me dêem o benefício da dúvida. Que eles digam, “Nosso pai fez o que pôde para nós, o melhor nas circunstâncias únicas que ele enfrentou. Ele pode não ter sido perfeito, mas ele foi um homem amoroso e decente que tentou nos dar todo o amor do mundo!”

Eu espero que eles sempre foquem nas coisas positivas, nos sacrifícios que eu dispostamente fiz por eles, e não criticar as circunstâncias sacrificantes que podem ter sido colocadas sobre eles, pelos erros que eu tenha cometido e que certamente continuarei cometendo enquanto os crio.

Pois todos nós fomos um dia filhos de alguém e sabemos que apesar dos melhores planos e esforços, erros continuarão ocorrendo. Isso é ser humano.

E quando eu penso nisso, no quanto eu espero que os meus filhos não me julguem de uma forma desfavorável, e que perdoem as minhas ausências, e sou forçado a pensar em meu próprio pai, e apesar de parte de mim ter negado isso por anos eu tenho que admitir que ele deve ter me amado.

E ele me amou, e eu sei disso... Havia pequenas coisas que me mostravam isso.

Quando eu era um rapazinho eu adorava doces – todos nós adorávamos.  A minha comida favorita eram donuts brilhantes, e o meu pai sabia disso. Então, toda a semana eu descia de manhã e na cozinha havia um saco cheio deles – sem notas, sem explicações – apenas os donuts.

Era como um presente do Pai Natal. Às vezes, eu pensava em ficar acordado até mais tarde só para vê-lo colocando-os lá, como um Pai Natal; eu não queria arruinar a magia, por medo de que nunca mais acontecesse de novo. Meu pai tinha que deixá-los ali de noite para que ninguém o visse fazê-lo.

Ele tinha medo das emoções humanas, ele não entendia ou sabia como lidar com elas. Mas sabia sobre os donuts.
E quando eu abri a minha memória outras lembranças apareceram rápido, lembranças de outros pequenos gestos, no entanto eram incompletas, mas mostravam que ele fez o que ele podia.

Então esta noite, em vez de focar nas coisas que o meu pai não fez, eu quero focar nas coisas que ele fez, e em seus desafios pessoais. Eu quero parar de julgá-lo.

Eu comecei a reflectir no fato de que meu pai cresceu no Sul, numa família muito pobre. Ele cresceu durante a época da Depressão, e o seu próprio pai, que se esforçou para alimentar os seus filhos, mostrou pouca afeição pela sua família e criou meu pai e meus tios com punho de aço.

Quem poderia imaginar como era ser criado por um negro pobre no Sul, roubado de sua dignidade, privado de esperança, batalhando para se tornar um homem num mundo, que via o meu pai como um subordinado.

Eu fui o primeiro artista negro a estrelar na MTV e eu lembro como isso era grande, e ainda o é. E foi nos anos 80!


O meu pai se mudou para Indiana e tinha uma família grande, trabalhando longas horas como metalúrgico, um trabalho que adoece os pulmões e torna o espírito humilde, tudo para sustentar a sua família. Será que dá para entender o quanto ele achou difícil expor os seus sentimentos? Seria mistério que ele tenha endurecido o seu coração, que ele tenha erguido muralhas emocionais? 
Que outra escolha um homem tem quando a sua vida é uma batalha a ser vivida? E o mais importante, seria difícil imaginar o porquê dele ter pressionado tanto os seus filhos para serem artistas bem sucedidos, para que pudessem serem poupados de uma vida que ele sabia ser de indignidade e pobreza? 

Eu comecei a ver até mesmo a rispidez do meu pai como um tipo de amor, um amor imperfeito, para ser mais exato, menos que amor. Ele me pressionou por que me amava. Porque não queria que ninguém menosprezasse os seus filhos. E agora, com o tempo, em vez de amargura eu sinto benção. No lugar de raiva, eu encontrei absolvição. E no lugar de vingança, eu encontrei reconciliação. E a minha fúria inícial foi vagarosamente dando lugar ao perdão.

Quase uma década depois, eu fundei um centro de caridade, chamada “Heal the World”.

O título era algo que eu senti dentro de mim. Era pequeno, como Shmuley depois me mostrou, que essas palavras formavam a pedra angular da profecia do Velho Testamento.

Se eu realmente acredito que possamos curar este mundo cravado de guerra, ódio e genocídio mesmo nestes dias? E se eu realmente acho que possamos curar as nossas crianças, as mesmas crianças que entram nas suas escolas com armas e cheios de ódio, atiram nos seus colegas como fizeram em Columbine; as nossas crianças que lincham uma criancinha até a morte, como a trágica história de Jamie Bulger (assassinado na Inglaterra por dois rapazes de 10 anos)?

Claro que eu acredito, ou eu não estaria aqui esta noite. Mas tudo começou com o perdão. Pois para curar as crianças, nós primeiro temos que nos curar. E para curar as nossas crianças, nós primeiro temos que curar a criança dentro de cada um de nós.

E como adulto, e como pai, eu percebo que eu não posso ser um ser humano completo, e nem um pai capaz de amar totalmente e incondicionalmente até exorcizar todos os fantasmas da minha própria infância. E é isso o que eu estou pedindo para todos nós esta noite. Viva o Quinto dos Dez Mandamentos.

Honrar pai e mãe e não julgá-los. Dar a eles o benefício da dúvida. Entender que eles tiveram as suas próprias batalhas, as suas próprias dores, os seus próprios traumas, e ainda assim fizeram o melhor que puderam.

Por isso perdoei o meu pai, e parei de julgá-lo. Eu quis perdoá-lo porque eu queria um pai e esse é o único que eu tenho. Eu queria tirar o peso do meu passado dos meus ombros, e ainda quero ser livre para ter uma relação com o meu pai pelo resto da minha vida, sem o estorvo dos”duendes’ do passado.

Shmuley e eu, estamos comandando esta iniciativa esta noite, somos membros da Comunidade Negra e Judaica, ambas confrontaram horrores e atrocidades através das nossas histórias. Como as nossas comunidades perdoaram os horrores sofridos por nós sem no entanto esquecê-los? Por apenas lembrar.

Passamos ao longo das nossas histórias. Mas também nos erguemos dessas histórias. 
Num mundo cheio de ódio, ainda ousamos ter esperança.
Num mundo cheio de raiva, ainda ousamos consolar.
Num mundo cheio de desespero, ainda ousamos sonhar. 
E num mundo cheio de desconfiança, ainda ousamos a acreditar.

Para todos vocês esta noite que se sentem tristes com os seus pais, eu peço que deixem para trás as suas decepções. Para todos vocês que nesta noite se sentem traídos pelos seus pais ou as suas mães, eu peço para que não se traiam mais. E para todos vocês esta noite que sentem vontade de mandar os seus pais para o inferno, eu peço que estendam a mão para eles em vez disso.

Pois na troca de dor as contas nunca se equilibram. Vingança não traz restituição. Por perdoar os nossos pais, não estamos a negar os erros deles para conosco.
Não estamos lavando os pecados deles criando santos de pecadores.
Mas abrigar ressentimento contra os nossos pais, nunca trará o amor que tanto almejamos. 
E dar não irá nem mesmo melhorar as nossas vidas. 

Dor perpétua, sofrimento perpétuo, o ciclo nunca termina. Há um provérbio Bakongo que diz ” Vingar-se é sacrificar alguém!”

E amigos, a nossa geração tem sacrificado e sofrido o suficiente.

Da mesma maneira que peço a vocês eu peço a mim, para dar aos nossos pais o dom do amor incondicional, para que eles possam aprender a amar através de nós, os filhos deles.

Então esse amor será finalmente restaurado para um mundo desolado e solitário. Shmuley uma vez mencionou para mim, uma antiga profecia bíblica que diz que viria o tempo em que “os corações dos pais seriam restaurados pelos corações dos filhos.” Meus amigos, nós somos esses filhos."



Nota: É uma tradição daquela Universidade convidar pessoas de expressão para fazer conferências. Só para nós sentirmos o nível dos convidados, já foram conferencistas nada mais nada menos que John Kennedy e Madre Teresa de Calcutá. 

E a conferência de Michael foi a mais concorrida de Oxford. Cerca de mil órgãos da imprensa de todo o mundo solicitaram credenciais para fazerem a cobertura. Além disso, mais de vinte mil pessoas (20.000)inscreveram-se para conseguir entradas para ouvir Michael (detalhe: a capacidade do auditório é de 500 pessoas, apenas).

Nota: Neste dia o discurso de Michael seria às 18:00, mas ele estava com o pé machucado e com fortes dores , foi ao medico e chegou lá por volta das 21:00 e ninguém tinha ido embora.

Fontes : blogdototony 
The Essential 

Confira na íntegra o discurso de Michael com legendas em português postadas no youtube por  carlamjking



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